Os rasgos de memória que nos marcam e que lembramos com exatidão são sempre escassos e raquíticos, comparados com a soma de tudo. Assaltam-nos com maior brutalidade os episódios em que a vida nos leva o fôlego, por alegria ou comiseração, e o corpo serve de contentor à dor ou a uma qualquer forma de amor quase incomportável.
Os entretantos, o tempo que sobra, nada disto é extraordinário, porque não tem peso, nem voz, nem textura, é só a vida a correr, sem que a sintamos nossa. Somos mais nós quando estamos desassossegados.
Assim, estaremos ali, presos às paredes que criámos, com mais ou menos volume, como montra viva de uma humanidade que urge ser revisitada, quase em jeito de propaganda e encenando a existência do artista enquanto ser isolado, esdrúxulo e inconstante. Hanami é também um desabafo sobre pertença e a contemplação do efémero.
A quem nos visita não impomos que fique, que se demore, nem mesmo que se detenha num mesmo lugar. Esta apresentação é um convite.
Hanami é uma tradição ancestral japonesa que contempla a beleza efêmera das flores de cerejeira.
Conceito, coreografia, figurinos, cenografia e texto Filipa Peraltinha
Interpretação Catarina Casqueiro e Filipa Peraltinha
Criação e interpretação musical Artur Guimarães e Rodolfo Cardoso
Desenho de luz Hugo Franco
Coordenação de produção e assistência Catarina Alves
Voz off Fanni Foldvari e Filipa Peraltinha
Fotografia Joana Linda
Design gráfico Marta Furtado
Produção Força de Produção
Parceria Carpintarias de São Lázaro
Agradecimentos Conservatório de Música e Artes do Dão, Catarina Peraltinha, Conceição Sousa, Noémia Azevedo, Fanni Foldvari e Carpintauto